Posted by ACAPOEIRA | quinta-feira, 17 de março de 2011 | 1 comentários

Maciel de Aguiar dando palestra na escola




O escritor Maciel de Aguiar contesta a pesquisa do jornal A Gazeta do dia 15 de dezembro que tem como título Capixaba não tem identidade cultural. Ele diz que o que o Espírito Santo tem de mais importante é a diversidade. E que este é o único estado que se fala oito idiomas diferentes. Para ele isto é muito mais importante que a própria identidade cultural.

Para o escritor todos os estados possuem identidade. Acredita que o Espírito Santo tem características diferentes por ter inúmeras representações culturais. "Olha todo mundo tem identidade. Não conheço uma pessoa que não tenha identidade cultural. Muito menos identidade. Eu acho que todas as pessoas e estados possuem identidade. O que acontece é que a diferenciação do Espírito Santo é que ele tem uma característica diferente. O nosso Estado e multifacetado são inúmeras representações culturais".

Maciel não gosta do termo identidade cultural e acredita que esta é uma discussão sem sentido, pois identidade não pode ser medida. Não é algo exato como uma conta matemática. "Eu não gosto muito desse negócio de identidade, acho que isto é um debate tolo. Acho que esta discussão sobre identidade cultural, principalmente no Espírito Santo, que há esta diversidade excepcional, extraordinária de povos, é algo inútil. Como vamos medir a identidade cultural do capixaba? É algo sem sentido".

Aguiar diz que a identidade capixaba é forte. E conta que já viu até comício traduzido para o pomerano. "Conto uma passagem em um comício que fui já há alguns anos, em Santa Maria do Jetibá, e veja que coisa incrível. Havia um tradutor no comício. O candidato falava e o tradutor traduzia em pomerano. Quer maior diversidade do que isto".

E vai além: "o Espírito Santo fala oito idiomas: tirolês, austríaco, pomerano, alemão, italiano, árabe, português e crioulo lá no norte do Estado. E pergunto qual é o estado que tem esta diversidade cultural? Que tem toda esta, fantástica, informação cultural. Então em uma discussão sobre identidade eu indago qual é a identidade, se não tem então qual é? Se nós não temos identidade cultural como afirma o jornal A Gazeta, então porque a matéria esta sendo contestada por estudiosos da área. Os que contestaram a matéria devem ter encontrado identidade cultural. Será que a matéria do jornal que diz que Capixaba não tem identidade cultural é representativa em um Estado que fala oito idiomas".

O escritor diz que o capixaba tem identidade e que melhor do que ter identidade e ter diversidade. "Estou em um Estado que tem diversidade cultural tão grande que eu posso dizer que a nossa identidade é isto. Não podemos dizer que o Estado não tem identidade, é como se nós estivéssemos subestimando informações de vários outros segmentos que são extremamente importantes para a nossa cultura. O que posso assegurar é que o Espírito Santo foi preparado para perder a sua unidade, e sofreu durante toda sua formação, um bombardeio violento para que não existisse uma unidade estadual e sim municipal".

Segundo Maciel o Espírito Santo teve várias ações judiciais com os Estados limítrofes que se estenderam até o século XX. "O Estado ficou isolado desde o império para proteger as riquezas das Minas Gerais. O Espírito Santo perdeu suas fronteiras e os Estados limítrofes o invadiram. No caso da Bahia o limite seria o rio Mucuri, mas os baianos entenderam que seria o rio Doce e invadiram o Espírito Santo. E esta região fantástica do Estado pertenceu à Bahia por meio século".

E mais. "Em 1764 Tomé de Abreu era donatário da capitania de Porto Seguro e invadiu os limites territoriais do Espírito Santo, e elevou São Mateus a categoria de Vila, pois São Mateus na época era aldeia. Então o Estado no transcorrer da história sofreu violentamente estes ataques dos Estados vizinhos. Isto aconteceu também em relação a Minas Gerais, foi na região da Fralda do Caparaó. Não se pode querer que hoje, o Espírito Santo passe uma borracha na sua história. A identidade existe, mas a diversidade é grande. Então o Espírito Santo além de sofrer historicamente esta pressão dos Estados vizinhos, foi invadido por um longo período da historia".

Para Aguiar o Espírito Santo tem uma multicultura, que é muito mais importante que esta discussão de identidade cultural. E que as empresas de comunicação deveriam massificar as culturas da terra. "Eu acredito que do ponto de vista da pesquisa, o método não foi bem utilizado. O que gostaria de saber é por que as empresas de comunicação não massificam os valores que elas desprezam. Por que não massificam a música capixaba, as artes e outras coisas da terra. Nos somos o subúrbio cultural mais representativo do País. E é muito difícil um estado sobreviver a tantas pressões como aconteceu aqui no Espírito Santo. E eu não vou cansar de repetir que o que o Estado tem de mais importante é a diversidade. E isto é muito mais importante que a própria identidade cultural".

One Response so far.

  1. Acho que o Aguiar está em negação de um problema cujas causas ele mesmo analisa muito bem: a influência "empobrecedora", ao inves de enriquecedora, que os estados vizinhos exerceram durante muitos anos.

    Diversidade é uma característica de muitos estados brasileiros, que em geral contribuiu para a gênese de culturas únicas: negros e portugueses, no RJ; italianos, alemães e ibéricos, no RG; negros, portugueses, levantinos, indios, judeus e uma pitada de germanos na Bahia... e por aí vai.

    Diversidade é a receita da maioria das culturas regionais brasileiras. Por que no ES a diversidade apontada por Aguiar não gerou, como em outras regiões, uma cultura que seja facilmente identificável? Onde estão, no ES, as manifestações do que chamamos de "cultura" como o falar regional, a culinária, as festas com sua música, dança e vestuário, o artesanato, etc.? Qual é o "tipo capixaba", como o "malandro carioca", o gaúcho de bombacha, a baiana, o sertanejo, o matuto mineiro, etc.?

    Me parece que negar essas questões não ajuda em nada a identificação e fortalecimento da cultura capixaba. Porque eu concordo com o Aguiar: uma comunidade não permanece décadas, séculos em convívio, sem formar uma identidade. E dessa identidade pode nascer uma cultura.

    Acho que continua válida a pergunta: o que caracteriza a identidade única capixaba?

Leave a Reply